terça-feira, 7 de outubro de 2008

O reflexo da escravidão na poesia de Castro Alves

À medida que a polêmica em relação à questão da escravidão crescia, a sociedade brasileira ia se dividindo em dois grupos: aqueles que defendiam a abolição e aqueles que eram escravistas, defendendo assim, a manutenção do sistema escravocrata.

Mesmo com a prosperidade econômica garantida pelas exportações de café, o Brasil não conseguia se igualar à Europa devido ao seu sistema baseado na escravidão, que denunciava a desgraça de um povo.

Nesse contexto e inspirados pelos princípios libertários defendidos por Victor Hugo, poetas como Castro Alves, começaram a escrever sobre a escravidão e outros problemas sociais.
Tais poetas, referentes à 3ª fase do Romantismo, chamados de condoreiros, devido ao condor (ave capaz de voar em altitudes bem altas, sendo assim escolhida como símbolo da liberdade), passam a manifestar-se contra esse sistema econômico baseado na escravização de negros. Para alcançarem um público maior, eles vão aos teatros e às praças públicas declamar seus versos.

Castro Alves, em suas produções, substitui o sentimento da natureza enfatizado nas duas primeiras gerações românticas, pelo sentimento de liberdade e humanidade. Suas obras deixam bem claro para o leitor o sofrimento vivido pelos negros escravizados e, além disso, algumas vezes Castro Alves, ainda levava seus leitores a uma visita à senzala, onde podiam ver claramente as péssimas condições em que os escravos viviam e também entravam em contato com instrumentos utilizados para tortura dos escravos, tais como o tronco e o pelourinho. Através dessas atitudes, Castro Alves conseguiu denunciar de maneira grandiosa o escravismo, e também comoveu grande parte da população, despertando nas pessoas algo que pareciam não possuir: a consciência e a idéia de humanidade.

Deixamos aqui, um poema de Castro Alves, em que ele toma para si a dor do escravo, denunciando a saudade do negro em relação a sua pátria e também, o medo da mulher escrava de ser afastada de seu filho.

A canção do africano
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...

De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!

“Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!

“ O sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!

“Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar...

“ Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro”.

O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!

O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.

E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!

Os escravos, Castro Alves, 1883

Um comentário:

Karina Motta disse...

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